quinta-feira, 26 de março de 2009

16º e 17º dias: Onde os fracos não têm vez

- To indo no Burger King. Agora.
- Não, cara! Você não pode tomar Coca!
- Foda-se esse jejum! Larguei a brincadeira! To indo lá agora!
- Pega um guaraná, então! COCA NÃO!
- Não! Eu to enlouquecendo, preciso de Coca!

Foi desesperado assim que liguei pro Cássio. Estava eufórico. Andava de um lado para o outro da casa, incomodado com algo que não sabia o que era. ou melhor, desde ontem eu já tinha certeza do que era: minha primeira crise de abstinência.

Na verdade isso começou na terça, quando meu humor simplesmente virou de uma hora pra outra e sem nenhum motivo aparente. Durante um acesso de loucura quando minha Internet caiu pela 3ª vez, dei um soco na parede que deixou minha mão doendo por quase dois dias.

De início, não creditei essa mudança súbita de humor à falta de Coca. Podia muito bem ser apenas uma crise de frescura ou uma bipolaridade desconhecida, mas ontem eu vi o quão grave era a situação da abstinência. Comecei me questionando se era válido continuar com essa loucura. Por que eu iria ficar sofrendo por 40 dias, se eu iria voltar a beber como um alcoolatra velho de guerra assim que o 41º dia chegasse. Não via sentido naquilo e foi como quando questionam a fé de alguém: plantando uma dúvida no alicerce para que logo tudo desmorone.

Não demorou muito para que aquilo começasse a fazer efeito. Meu humor novamente começou a variar novamente e passei a ficar eufórico. Não conseguia ficar parado por muito tempo e, quando tentava, meu nervosismo se tornava bastante evidente, seja batendo o pé freneticamente no chão ou batucando inconscientemente com a mão. Tomei um banho para tentar relaxar e decidi dar uma volta.

No caminho, minha cabeça começou a doer e fiquei tonto um par de vezes. Minha boca começou a ficar com aquela sensação estranha que se tem quando está com sede, como se a saliva engrossasse e você precisasse beber algo. Comprei meio litro de suco de laranja, mas continuei com aquela sensação estranha.

Quando fui com minha namorada em uma lanchonete, já no fim do dia, era possível ver em mim a figura de um viciado tentando se livrar das drogas: batendo freneticamente na mesa, sem se dar conta, ansioso e com aquela maldita sensação de sede que não passava.

Hoje, apesar de ter acordado um tanto quanto alegre, o mau humor logo apareceu e foi seguido pela euforia e pelo desespero. Foi quando decidi que ia largar essa putaria de ficar 40 dias sem Coca e que iria ao Burger King naquela hora, compraria o maior dos hamburgeres e passaria a tarde tomando Coca e sendo feliz. Liguei pra minha namorada e ela me apoiou, dizendo que eu tinha mesmo de largar essa loucura. Liguei então para o Cássio, avisando que estava fora da brincadeira e foi quando o diálogo que inicia esse post aconteceu.

Peguei meu dinheiro e desci obstinado: eu iria ao Burger King e morreria tomando Coca. Segui meu caminho até a esquina da minha casa, quando entrei no mercado com o seguinte pensamento: se tiver hamburger e um suco, eu entenderei como Deus me dizendo para continuar com meu jejum. Se não tivesse, iria mesmo ao BK ser feliz. Resultado: Deus quer me manter longe da Coca.

Quando retornava, fiquei me olhando no espelho do elevador e percebi o quão parecido com um drogado eu estava: cabelos grandes e bagunçados e enormes olheiras em meu rosto. Estou em um estado tão deplorável e sequer cheguei na metade do caminho. Se as coisas continuarem como estão, ou morro em cinco dias, ou acabo matando alguém. Mas também posso engolir uma pilha.

Um comentário:

  1. Eu voto no matar alguém. Digo, no local onde você estuda tem muitas vítimas em potencial que tornariam muita gente feliz caso morressem.

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