quinta-feira, 12 de março de 2009

3º dia: Retrospectiva

Pois é, ainda é apenas o terceiro dia sem Coca. As coisas não estão tão desesperadoras, quanto o futuro promete. Alguns devem lembrar que o diabo não apareceu pra Jesus no primeiro dos seus dias no deserto. Pois bem, o nosso demônio (Alô Diabo) também não apareceu ainda para nos prometer cascatas de Coca. Estamos, portanto resistindo com relativa facilidade às geladeiras forradas de garrafas sensualmente geladas que povoam os Mercadoramas, estes santuários dos coke-addicted.

Por enquanto, a única tentação realmente ameaçadora que mantém nossos corações em suspensão é a possibilidade, ainda que remota para alguns, de se chegar em casa e deparar-se com aquele míssil do capitalismo que são as garrafas de coca maiores que 2L. E mais terrível ainda: você tenta desviar sua atenção daquela tentação rubro-negra (sem comentários sobre times, por favor) e chega aquele seu parente sacana, que sabe que você está fazendo um esforço olímpico para controlar-se e lhe oferece o líquido inefável, passa o copo debaixo do seu nariz, fazendo com que cada cabelo do seu corpo se arrepie, com que sua boca se encha d’água, e diz, com a cara mais marota do mundo “Quer?”. Esse parente, que no meu caso é um sobrinho, mas também pode ser uma irmã ou namorada, não sabe o mal que faz, afinal, nunca passou pela experiência da desintoxicação. Mas Jesus é justo e Deus escreve certo por linhas tortas. E o que é melhor, Deus gosta de Coca.

Como eu dizia. A tentação e a abstinência ainda não estão no ápice, então ao invés de lamentar os litros não tomados usarei esse post para mostrar como eu e o Cássio adquirimos esse tão delicioso, e ao mesmo tempo bone-threatening, hábito. Excluo o Durval, pois este já nos explicou seus motivos:

Verão de 2005, Curitiba, 2º ano do Ensino Médio. Começo de ano, pessoal se conhecendo melhor. O fantasma de ser calouro sumira junto com 2004 e ao que tudo indicava novas amizades se formariam. Contudo, numa turma de jovens envergonhados fazia-se necessário algum tipo de aparato que congregasse as pessoas e consolidasse suas relações. Esse aparato foi – e eu falo sem vergonha alguma – uma campanha de RPG. Toda quinta no local combinado. Mas era verão, e como se sabe, mais que dois bros num mesmo local num dia quente é um evento que exige algo gelado e bebível. Mercadorama a algumas quadras de distância, forma-se a comitiva responsável por ir buscar algo. Chegando ao Santuário nos chama a atenção aquela garrafa geladíssima, cheia de um líquido escuro e borbulhante, de rótulo vermelho, cor que, como é bem sabido, atiça a libido dos observadores. Até aquele momento Coca era conhecida apenas como aquele refrigerante que animava as festas familiares aos domingos e que fazia lacrimejar quando ingerida a grandes quantidades em poucos goles. Até aquele momento, para alguns de nós, a Coca era preterível em favor de refrigerantes mais plebeus. Ledo engano. Bem, a comitiva volta para a reunião, e qual a surpresa geral quando “Meu Deus, esse é o melhor refri de todos!”. A partir dali, quinta era o dia de RPG regado a Coca, ou seria COCA regada a RPG. Não importa. O hábito semanal não demorou para aumentar em freqüência e em quantidade, e com o advento do cursinho no ano seguinte e a necessidade de ficar fora de casa o dia inteiro viramos cocólatras inveterados.

O cursinho acabou, veio a Universidade, pessoas foram estudar em lugares distantes e o grupo que contava com 5 membros, passou a ter 3, sendo que um deles é em 50% dos encontros absente (Obviamente, os outros dois membros são eu e o Cássio). Ou seja, menos pessoas pra tomar o líquido divino. O que não significa que passamos a comprar menos. E assim o que era um vício relativamente inofensivo, ainda que vício, tornou-se um movimento de consumismo desenfreado de Coca. Acredito que quando você racha um míssil do capitalismo em duas pessoas e não parece difícil tomar tudo, algo está errado. Até tentamos alternativas menos drásticas que a abstinência total, como a Coquinha 600ml, que apesar do tamanho proporciona prazer de gente grande, mas não dá. Invariavelmente comprávamos os monstros multimililítricos para depois enfrentarmos nossas consciências nos dizendo que aquilo era errado, posto que másculo.

O Momento da Verdade finalmente chegou e decidimos dar um basta nisso. Provaremos, principalmente para nós mesmos, que conseguimos, assim como Jesus ficou no deserto por 40 dias, fazer nossa Quaresma de Coca.

Inconsolavelmente esperando por dias piores, escreveu aqui Duda Godarth, seu correspondente da guerra contra o líquido negro.

Um comentário:

  1. A tentação virá com aqueles que mais amamos. O Diabo se utilizará destas pessoas para nos colocar no pecado. Amém.

    ResponderExcluir