sexta-feira, 17 de abril de 2009

40º dia: Aleluia

Pois é, eu havia me enganado. O Blog morreu sim. Eu até tentei inventar uns títulos engraçados esperando que a partir deles surgisse a inspiração pra escrever posts engraçados. Não deu. Ainda coincidiu que a última semana do blog foi semana de prova na faculdade. Mas sem desculpas. Faltou criatividade mesmo.
Vamos então a um pequeno resumo do que aconteceu nesses 18 dias que ficaram sem relatos: pelo menos pra mim a vontade de tomar Coca diminui bastante, o que é bom, afinal, era esse o objetivo inicial de ficar 40 dias sem tomar Coca; vários amigos e parentes se acostumaram com o fato de eu não tomar Coca e começaram a tomar outros refris quando eu estava por perto. Foi legal conversar com algumas pessoas que leram o blog aleatoriamente e vieram comentar coisas como "muito legal cara" ou "eu nunca conseguiria ficar um dia sem Coca" ou ainda "e aí, vai uma Coquinha". Tudo muito legal. Também foi muito legal ficar fugindo de outros vícios como narguilés e cerveja, apesar de que isso também foi difícil.
Um detalhe importante que pode ser considerado por alguns como uma falta no esquema da Quaresma, mas tecnicamente não é: a partir do 30º dia, começamos a tomar refrigerantes mais plebeus: guaraná, fanta, sprite, cini, etc. O que aliviou bastante a vontade de sentir a sensação de cócegas no cérebro provocada pelo gás e ajudou, na minha opinião, a não ficarmos tão fissurados em refrigerante e não voltarmos ao vício em menos de uma semana.
O que fica por conta do leitor decidir se foi infração ou não e quantos ufir vale é o fato de que o senhor Netsuke decidiu tomar New-Cola. Tá, não é Coca, mas... né.
Explicando agora duas coisas importantes: 1) A corridas dos Mercadoramas. Isso realmente vai acontecer e consiste no seguinte: de bicicleta, passaremos em todos os Mercadoramas da cidade (que agora são apenas 19), em apenas um dia, comprando uma Coca-Cola em cada um. Vai ter foto e tudo mais. Quem quiser está convidado, manifestem-se. 2) A festa 40 litros de Coca: será um evento em que cada levará um garrafa de 2,5 L de Coca para consumo próprio. Tudo muito feliz. Ainda sem data definida, estão todos convidados também. Manifestem-se.

Temos algumas idéias pro blog. Talvez comecemos a viver "40 dias seguindo o Horóscopo", ou "40 dias sem comer carne". Ainda não sabemos. Mas, por favor, ainda não deletem o blog dos favoritos.

Por fim, gostaria de agradecer aqueles que acompanharam o blog e convido a todos a tomarem uma Coca comigo à meia-noite de hoje. A minha já está comprada.

terça-feira, 31 de março de 2009

22º Dia: Este Blog morreu?

Não gente. O Blog não morreu. O que acontece é que todo mundo está cansado de saber que nós passamos vontade todo dia; que nossos parentes nos sacaneiam todo dia nos tentando com o líquido precioso; que é duro ir ao Mercadorama quase todo dia e ver aqueles mísseis do capitalismo geladinhos pulsando, e quase falando "Me pegue, me abra, me tome". Todos já sabem disso, E é para não ficarmos repetitivos que diminuímos o fluxo de postagens. Mas não se desesperem leitores amigos. A criatividade cresce inversamente proporcional a freqüuência (com trema).
Porém uma coisa que vocês leitores não sabem é os termos em que esse combinado foi feito. A princípio pode parecer um mero "e aí, vamos ficar 40 dias sem tomar coca? vai ser legal", mas não. Há mais por trás disso. Se, como demonstrou nosso amigo Hélio, existe um preço a pagar por se largar a Coca-Cola, também existe um preço a se pagar por furar uma Quaresma de Coca-Cola com os amigos. E esse preço se chama: Rollmops (com link pra quem, como eu, não sabia o que era). "E pra beber, não vai nada?" diria mamãe. Claro que vai. Pra acompanhar essa combinação hedionda de sardinha e cebola vai um copo de 500ml de suco de Clorofila, que só se chama suco por convenção social, o nome certo deveria ser Suor do Capeta ou Fernando.
Obviamente não é só isso - os caras do "No Limite" comiam olho de cabra facinho, não seria tão difícil detonar um Rollmops - o pior mesmo, é que quem largar mão da Quaresma, vai ter que começar de novo. Os leitores até poderiam torcer pra que isso acontecece, já que isso garantiria a continuidade do Blog, mas nós também somos filhos de Deus, e Deus gosta de Coca.

Antes de acabar esse post gostaria de dizer duas coisas. 1) Que ele sirva de homenagem também aos dias 21 e 18 da nossa jornada, que, apesar de não mencionados, não foram de menor sofrimento. 2) Dar um preview do que a por vir: The Coca-Cola Code, A Corrida dos Mercadoramas, a '40 Litros de Coca Party' e "Coca-Cola, Água e Petróleo: Um Estudo".

domingo, 29 de março de 2009

20º dia: O ponto médio

Hoje a cruzada contra o vício chegou a metade. Um ponto importante para ver o que já foi conquistado até agora e decidir a estratégia para o segundo tempo. Os objetivos iniciais eram simples: reduzir os gastos excessivos que tínhamos com as taxas do líquido sagrado todos os dias. Como bônus, ainda nos prometeram uma melhora na saúde. Pois então, o que foi obtido até agora?

Dinheiro. Com a economia dos, em média, dois reais diários, hoje eu deveria ter uns quarenta reais. Claro, eu não contava com isso desde o começo. Afinal, eu teria de beber outras coisas. Dentre loucuras como estocar pacotes de tang de abacaxi para misturar em uma garrafinha d'água e acreditar na promoção do suco de laranja do habib's, uma conclusão foi tirada: suco é absurdamente caro. Não adianta, comprar Coca não é exibicionismo. São quatro reais por dois litros. no habib's você ganha meio litro de suco de laranja pelo mesmo preço. Claro, eu usei uma alternativa das mais caras como exemplo, existem sucos mais baratos, mas a única alternativa que encontrei que supera o custo-benefício da Coca é um maguary de suco de caju, e não, obrigado.

Saúde. Não adianta, assim como o cara do Molejo tem pulmões que sabem que são de um fumante, meus ossos sabem do que eu gosto. Eles estão estranhando todo esse cálcio extra que meu corpo está absorvendo. Não, essa vida não é pra mim, quero voltar pra sacanagem.

Alegria. Com mais dinheiro e mais saúde, uma pessoa tende a ser mais feliz. Bem, se nos outros parágrafos eu mostrei que não atingi os objetivos anteriores, seria paradoxal confirmar que sou uma pessoa feliz aqui. E não só pelos fatores anteriormente descritos. Aqui em casa, o clima é de desunião. Vinte dias de greve e ninguém reparou que os mísseis de 2,5L demoram alguns dias mais para se esvaírem. Não há contato familiar, aquela reunião com todos em torno de uma mesa com uma Coca no centro não ocorre mais. Eu tento evitar a imagem da Coca e demoro para aparecer, e aos poucos, ninguém faz mais questão de falar com o outro. É o fim dos valores na sociedade moderna. Sem querer, consegui desestruturar ainda mais a minha família. Para se ter noção do estrago, devido a minha ausência na reunião de escolha do refrigerante da semana, ousaram trazer uma garrafa de New Cola aqui pra casa. Almoço com todos à mesa? Sobrevivi o domingo a base de iogurte. Minha irmã, não vi o dia inteiro. E todos passamos o dia inteiro em casa.

Alô, diabo. Você conseguiu.

sábado, 28 de março de 2009

19º Dia: Um pouco da história de todos nós

Numa cidade não muito grande, no centro de um país morava um garoto. Ele se chamava Hélio Caetano Eagleton. E é a história dele que contaremos hoje: Hélio morava com seus pais e era muito amado por sua família. Seu problema mesmo eram seus colegas de escola, pois estes não perdoavam o fato de que Hélio não se enquadrava nos padrões que eles exigiam. Ah, maldita ditadura da estética. O maior problema de Hélio era o seu peso: não que o excesso de peso lhe causasse algum mal estar físico, problemas de coração, etc., mas seus colegas não hesitavam em lhe dar os piores apelidos, aqueles malvados mesmo. E principalmente não perdoavam seus protuberantes mamilos. "Aposto que você pode usar eles de travesseiro", "Você faz queijo aí embaixo?" eram coisas que Hélio costumava ouvir.
Durante as excruciantes horas escolares, Hélio só tinha um consolo: a hora do lanche, porque era nessa hora que Hélio fazia aquilo que lhe dava mais prazer na vida: tomar uma maravilhosa, geladinha, voluptuosa, arrepiante, garrafa de 1 Litro de Coca-Cola. Essa garrafa era seu ticket para um mundo imaginário e feliz em que tudo era regido por ele, as pessoas o amavam e ele não era "o blob".
Depois de muito reclamar para seus pais do freqüente bullying sofrido na Escola, seus pais finalmente tomaram uma atitude: Decidiram que Hélio entraria numa dieta rigorosa, refeições com horário predeterminado, sem comidas gordurosas, muita salada e frutas. Decidiram também que ele começaria a fazer exercícios: natação 3 vezes por semana, basquete aos sábados e que ele iria e voltaria todos os dias de bicicleta para a escola. A princípio estava tudo OK para Hélio. Apesar de não ser um modelo de força de vontade, Hélio queria muito ser aceito pela sociedade (que tristeza não, caro leitor) e decidiu aceitar. A única coisa que Hélio não quis aceitar foi ficar sem o Líquido que governa até o Um Anel. Mas a imposição de seus pais foi implacável, e até mesmo a esse sacrifício Hélio teve que se submeter.
As coisas realmente pareciam que iam dar certo, Hélio emagrecia a olhos vistos e como num passe de mágica, aos poucos, as pessoas vinham falar com ele no colégio. Tudo parecia ótimo, e por um breve momento Hélio soube o que era ser popular. Mas como nós estamos mostrando, ficar sem Coca-Cola tem seu preço. A taxa de emagrecimento de Hélio não dava mostras de que ia parar e em pouco tempo Hélio estava fernandatorresmente magro e terrivelmente branco (uma garrafa de Coca às avessas). Novos apelidos surgiam ("Skullomania", "Cranicola"), mas dessa vez não era apenas a integridade moral de Hélio que estava sendo afetada, mas a física também. Hélio estava anêmico e contraia várias doenças ao mesmo tempo. Seus pais mandaram-no para vários nutricionistas e fizeram-no tentar várias dietas para reganhar peso. Mas nada adiantava, porque o que faltava na vida de Hélio, não era comida, era o néctar dos Deuses. A nossa Coca-Cola. Era isso que Hélio queria, mesmo sem saber, pois era jovem e ingênuo.

Por ser um pouco da história de nós, homens comuns, a história termina aí. Sem desfecho decisivo. Decida você qual será o final da sua história. Qual é a sua vibe?

quinta-feira, 26 de março de 2009

16º e 17º dias: Onde os fracos não têm vez

- To indo no Burger King. Agora.
- Não, cara! Você não pode tomar Coca!
- Foda-se esse jejum! Larguei a brincadeira! To indo lá agora!
- Pega um guaraná, então! COCA NÃO!
- Não! Eu to enlouquecendo, preciso de Coca!

Foi desesperado assim que liguei pro Cássio. Estava eufórico. Andava de um lado para o outro da casa, incomodado com algo que não sabia o que era. ou melhor, desde ontem eu já tinha certeza do que era: minha primeira crise de abstinência.

Na verdade isso começou na terça, quando meu humor simplesmente virou de uma hora pra outra e sem nenhum motivo aparente. Durante um acesso de loucura quando minha Internet caiu pela 3ª vez, dei um soco na parede que deixou minha mão doendo por quase dois dias.

De início, não creditei essa mudança súbita de humor à falta de Coca. Podia muito bem ser apenas uma crise de frescura ou uma bipolaridade desconhecida, mas ontem eu vi o quão grave era a situação da abstinência. Comecei me questionando se era válido continuar com essa loucura. Por que eu iria ficar sofrendo por 40 dias, se eu iria voltar a beber como um alcoolatra velho de guerra assim que o 41º dia chegasse. Não via sentido naquilo e foi como quando questionam a fé de alguém: plantando uma dúvida no alicerce para que logo tudo desmorone.

Não demorou muito para que aquilo começasse a fazer efeito. Meu humor novamente começou a variar novamente e passei a ficar eufórico. Não conseguia ficar parado por muito tempo e, quando tentava, meu nervosismo se tornava bastante evidente, seja batendo o pé freneticamente no chão ou batucando inconscientemente com a mão. Tomei um banho para tentar relaxar e decidi dar uma volta.

No caminho, minha cabeça começou a doer e fiquei tonto um par de vezes. Minha boca começou a ficar com aquela sensação estranha que se tem quando está com sede, como se a saliva engrossasse e você precisasse beber algo. Comprei meio litro de suco de laranja, mas continuei com aquela sensação estranha.

Quando fui com minha namorada em uma lanchonete, já no fim do dia, era possível ver em mim a figura de um viciado tentando se livrar das drogas: batendo freneticamente na mesa, sem se dar conta, ansioso e com aquela maldita sensação de sede que não passava.

Hoje, apesar de ter acordado um tanto quanto alegre, o mau humor logo apareceu e foi seguido pela euforia e pelo desespero. Foi quando decidi que ia largar essa putaria de ficar 40 dias sem Coca e que iria ao Burger King naquela hora, compraria o maior dos hamburgeres e passaria a tarde tomando Coca e sendo feliz. Liguei pra minha namorada e ela me apoiou, dizendo que eu tinha mesmo de largar essa loucura. Liguei então para o Cássio, avisando que estava fora da brincadeira e foi quando o diálogo que inicia esse post aconteceu.

Peguei meu dinheiro e desci obstinado: eu iria ao Burger King e morreria tomando Coca. Segui meu caminho até a esquina da minha casa, quando entrei no mercado com o seguinte pensamento: se tiver hamburger e um suco, eu entenderei como Deus me dizendo para continuar com meu jejum. Se não tivesse, iria mesmo ao BK ser feliz. Resultado: Deus quer me manter longe da Coca.

Quando retornava, fiquei me olhando no espelho do elevador e percebi o quão parecido com um drogado eu estava: cabelos grandes e bagunçados e enormes olheiras em meu rosto. Estou em um estado tão deplorável e sequer cheguei na metade do caminho. Se as coisas continuarem como estão, ou morro em cinco dias, ou acabo matando alguém. Mas também posso engolir uma pilha.

terça-feira, 24 de março de 2009

15º dia: O paraíso é o inferno with benefits

O inferno deve se parecer com o paraíso, proferiu um colega meu anteriormente. Acredito nele. Para exemplificar essa máxima, cito a última visita de meu pai a cidade. Como ele vem uma vez por mês, em média, nós saímos juntos e, em determinado momento, passamos no shopping, onde o estabelecimento escolhido para preparar a nossa comida foi o Burger King.

O nome do lugar é justo. Nada mais faz me sentir um rei como escolher qual dentre tantos sanduíches com suas combinações de preparo e acompanhamentos irá me acompanhar na jornada ao sabroso reino do paladar. Naquele dia, optei pelo BK Stacker Quádruplo, uma sempre boa opção, afinal, não tenho de pedir para tirar as coisas saudáveis dela, elas simplesmente não vêm. Entre dois pães, quatro hamburguers com fatias de queijo entre cada uma. Entre o pão de cima e o último hamburguer, fatias de bacon. Se fosse um sanduíche proibido ao invés de fruto, certamente essa seria a causa da expulsão do nossos tataravôs do Éden.

A escolha estava feita. Enquanto aguardava o preparo, recebi um copo de 500ml. O cálice sagrado da mais importante característica do local: O REFIL INFINITO. Em meus planos para depois desses dias tristes, pretendo não tomar mais que 600ml por dia, salvo dias de celebração e feriados, em que o céu será o limite. Pois bem, qualquer refeição no BK é motivo de celebração, e das grandes. Estava ali com meu cálice pronto para ser preenchido pelo alegre líquido quando me dou conta que não poderia apertar o botão embaixo da marca vermelha da paixão. Quase entrei em choque. EU TENHO UM COPO INÚTIL, pensei. Toda a alegria e cor daquele reino se esvaíram em segundos.

Fazer o quê, tá no inferno, enche o copo de chá.

14º dia: Como um eunuco no harém

Formatura é uma coisa linda. Música, muita gente feliz, alegria e comida. E bebida. Muita bebida. Formaturas são, geralmente, o paraíso do pessoal etílico, já que sempre costuma rolar um open bar para a alegria da moçada. Para quem não bebe, também tem água e refrigerante à vontade. E Coca.

Foi para ir à formatura de uma velha amiga da minha namorada que visitei sua cidade natal, Santa Izabel do Oeste, bem no interior do Paraná. De Curitiba até a cidade são cerca de 8h de ônibus e, como a formatura foi em outra cidade - Cascavel -, foi mais uma hora de carro até chegar lá, totalizando cerca de 9h de viagem para chegar em um lugar com Coca grátis all night e ter de se contentar com uma garrafa de água, que ainda tinha um gosto duvidoso.

Era incrivelmente deprimente estar lá, no meio da tentação, e não poder fazer nada. Naquela noite me senti como um novo-eunuco no meio de um harém, olhando aquilo que ama e não poder tocar. Ou um viciado em cocaína fazendo pacotinhos da droga. E olhe que estamos praticamente falando do mesmo composto químico.

Como se não bastasse a tristeza de não poder beber, a mesa da formando tinha de ser exatamente ao lado de onde os refrigerantes eram guardados em grandes recipientes com gelo. Estava ali, esperando que alguém chegasse com seu copo e matasse sua sede e sua vontade. E, como desgraça pouca é bobagem, às vezes aparecia um garçom e enchia uma jarra prateada com aquele líquido negro e vinha me oferecer. "Coca-Cola, senhor?". Não, obrigado. Estou satisfeito com minha água sem gás.

Estar em um lugar que tem tudo aquilo que você deseja e não poder desfrutar nem um pouco sequer é tortura. Tenho certeza de que o Inferno se parece com o Céu.

segunda-feira, 23 de março de 2009

13º dia: Coca-Cola e Deus: As relações entre as duas entidades mais influentes do planeta Terra ou Como a criação superou o Criador

"No princípio havia o verbo", é o que nos conta a Bíblia. E em seis dias Deus criou a Terra para descansar no 7º. Mas o que a Bíblia não conta é que Deus não permaneceu totalmente inativo no sétimo dia. Pois só descansar seria chato. Nesse dia, Deus produziu algumas coisas com as quais pudesse se entreter, e dentre elas está esta que nos interessa hoje: a almighty Coca-Cola. Continuando a história. Alguns estudiosos afirmam veementemente que o "fruto proibido" era a própria Coca, mas isto é um equívoco, pois como afirma "The Coca-Cola Code", do qual eu ainda falarei neste Blog, "O possuidor de uma Coca-Cola gelada deve sempre dividir o líquido entre todos aqueles que não são seus desafetos" (muitas divergências quanto a tradução desta passagem, mas acredito ser este o sentido geral). Sendo claro que Adão e Eva não eram inimigos de Deus, torna-se óbvio que o líquido negro não é o real significado de "pecado original" (e, naturalmente, não é o objetivo deste Blog dizer qual é o real significado). Especula-se também que Coca tenha sido o motivo da contenda entre Caim e Abel. Ledo engano.

A verdade é que durante anos, Deus deu Coca ao povo sem pedir nada em troca. E tudo era bom. Mas foi justamente essa disposição de Deus em distribuir o líquido sagrado de forma totalmente altruísta que O levou a uma derrocada sem precedentes. Pois no imaginário popular, Deus, aos poucos foi perdendo espaço. Logo não era mais Ele quem trazia conforto às famílias, não era mais a Ele que os pedidos e orações pré-sono eram dirigidos, mas sim a Ela. Há registros de que nessa época era corrente dizer "Coca-Cola me salve" quando ocorria uma catástrofe, e uma das ofensas mais graves a se dizer era "que lhe falte Coca-Cola". Deus percebeu que algo estava errado, pois ele perdia prestígio e respeito. Ele decidiu que era hora de dar um basta naquela situação usando de seus poderes. É o que a humanidade conhece como Dilúvio. Foi o modo que Deus encontrou para dissolver a Coca da vida das pessoas. Rumores existem que a Coca diluída que foi parar em alguns cantos mais recônditos possa ter virado o que hoje conhecemos por petróleo, isso será discutido em outro momento.

O que acontece é que o líquido maravilhoso não sumiu por completo e em fins do século XIX John Pemberton redescobriu o líquido em cavernas da Jordânia, deduziu a fórmula e recriou o líquido. Claro que não tão gostoso quando feito nos primórdios pelas mão de Deus himself, mas mesmo assim ainda muito saboroso. Essa fórmula vem evoluindo desde então e hoje temos algo muito similar ao original (principalmente nas garrafas retornáveis de 1,5L).

Desde sua redescoberta a Coca-Cola vem desempenhando um papel crucial nos esquemas políticos do planeta, principalmente como símbolo do capitalismo. Mas mesmo exercendo tão grande impacto nas relações internacionais a Coca mostra mesmo sua força, nas pequenas reuniões familiares aos domingos, nas reuniões entre amigos, naqueles momentos estressantes, nos dias de calor, ou seja, nas pequenas coisas.

Nos dias de hoje, com tantas religiões proliferando, é muito mais difícil para nosso líquido precioso enfrentar a concorrência de Deus; o Dilúvio foi um golpe duro. Mas não desejamos que Deus seja derrotado, nós gostamos dele. E o principal, Deus gosta de Coca; e a Coca... gosta de Deus.

sábado, 21 de março de 2009

12º dia: Pepinos Socias 2

Como já foi dito pelo Duda em posts passados, além de sofrermos por não poder beber, ficar sem Coca também causa diversos tipos de problemas sociais. É difícil você negar aquela Coca-Cola gelada e explicar a loucura de ficar 40 dias sem tomar. As pessoas riem e acham que você está brincando. Quem brincaria com algo tão sério assim?

Para quem não sabe, nosso blog foi notícia no Jornal do Estado, aqui de Curitiba. Sim, nosso sacrifício foi reconhecido e viramos notícia, mesmo que de poucas linhas, mas mesmo com essa prova irrefutável de que não podemos beber, as pessoas não acreditam. Ou passam a te ver como alguém de outro mundo, como aconteceu comigo hoje.

Vim com minha namorada para a sua cidade natal e fomos almoçar na casa de sua melhor amiga. Todo mundo feliz, conversando e rindo, quando a dona da casa aparece com uma linda Coca-Cola de 2,5L. As pessoas na mesa comemoram a chegada da bebida e minha namorada me olha com um sorriso no rosto e um olhar de pena. Ela pergunta se tem alguma outra coisa para beber e falam para que procure na geladeira. Adivinhem só o que eu tive de beber? Água.

"Ué, não gosta de Coca?" Amo, minha senhora. Amo. Quando expliquei minha saga - com direito a dizer que até saiu no jornal - algumas pessoas riram achando que era sacanagem, mas quando viram eu enchendo meu pobre copo com aquele líquido sem cor, sem gosto, sem cheiro e que ainda dá dengue, viram que era verdade e houve silêncio. O dono da casa, para tentar quebrar o clima, defende minha atitude: "Pois é, essa coisa aí faz muito mal!". E disse isso enquando enchia seu copo. Logo alguém jogou outro assunto na mesa para esquecer aquele estranho que estava sentado no canto e tomando água.

Depois, enquanto escrevia o post anterior, minha namorada veio brigar comigo. "Bem que você podia beber ao menos aqui né? Fica chato." Meu bem, sinto muito, mas não posso.

11º dia: Tentações

"E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e, naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome.
E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão."
Lucas 4, 2-3


Nos quarenta dias que Jesus permaneceu no deserto, jejuando, o Diabo foi tentá-Lo com todos os argumentos que conseguiu. Na nosso deserto sem Coca, o tentador aparece sob várias facetas e, a que mais adora, é a das pessoas mais próximas a nós.

Talvez a pessoa que mais esteja sofrendo, além dos três que aqui escrevem, da falta de Coca seja a minha namorada. Isso se dá porque ela só toma quando está comigo e, como estou nessa cruzada para me livrar do vício, ela acabou entrando na dança sem querer. E é com esse espírito vingativo que ela passou a me tentar.

"Vou fazer você beber Coca antes desses 40 dias acabarem". Foi com esta frase que minha vida passou a se tornar um inferno. Na falta de um argumento melhor - como derrubar o Filho de Deus da história original - ela se utilizou do fato de não beber Coca sem mim para me fazer sofrer. De princípio achei que ela estava brincando, afinal ela sempre apoia minha loucuras, mas logo ela provou que eu estava enganado.

No dia que fomos à pizzaria e acabei tomando aquele suco nojento de manga
, ela começou. Antes de pedir o dito suco, fiquei naquele impasse: pegar ou não pegar? Foi quando a tentação apareceu pela primeira vez: "Pega uma Coca. Ninguém vai ver mesmo." Olhei horrorizado pra ela. Esperava aquilo de qualquer pessoa, até da minha mãe, mas não dela. Notando meu espanto, tentou se corrigir: "Então pega outro refrigerante. Uma Sprite. A idéia é parar com a Coca, né?". Foi como se eu visse, naquele momento, Eva me oferecendo o fruto proibido enquanto a Serpente sorria em seus ombros. E com o argumento que derrubou Adão: a dúvida. A lógica estava certa, afinal Sprite não é Coca e, como todos estão cansados de saber, é do líquido negro que estamos tentando nos livrar. Estava quase aceitando quando pensei: se alguém está tentando largar o cigarro e então fuma um baseado, está errado, não? Maconha não é cigarro, mas é tudo a mesma merda. Com este breve insight divino, recusei e caí no erro de pegar o maldito suco de manga, mas dos males, o menor.

Apesar de tudo, não fiquei chateado com ela por causa disso, tanto que no dia seguinte decidi fazer algo por ela, já que, às terças, o seu dia é incrivelmente corrido, saindo do estágio desesperada para pegar o ônibus e ainda chegar atrasada na faculdade. Com esse horário totalmente apertado, não sobre tempo pra comer nada e ela tem de ficar o dia inteiro apenas com o almoço no estômago. Então decidi ajudar ao menos nisso: comprando algo para ela não morrer de fome.

Quando cheguei na lanchonete e pedi um salgado e uma Coca, doeu-me a alma, já que há mais de uma semana que eu não pedia isso para ninguém. Era um dia absurdamente quente e, como se não bastasse estar ali comprando aquela Coca para não poder tomar, a vendedora me olha e diz: "Meu Deus!!! Que Coca gelada!". Sério, sem sacanagem, a desgraçada realmente falou isso. Tudo bem que tem uma foto minha sorridente neste blog, mas duvido que ela leia isso aqui, tenha me reconhecido e feito isso pra me zoar. Se for, ao menos fico orgulhoso por ser famoso pela minha desgraça. Quase como os Nardoni, só que sem jogar ninguém da janela.

Encontrei minha namorada e entreguei o salgado com a Coca. Além de tentar ajudá-la, aquilo era um teste pessoal. Eu seria capaz de vê-la tomando uma Coca que eu comprei e negar quando ela me oferecesse? Ela pediu para que eu abrisse a lata e quase chorei. Ela realmente estava muito gelada e, quando puxei o anel da lata e ouvi aquele "PSHHHHHH", com pequenas gotas de refrigerante molhando meus dedos, senti minhas pernas tremerem. Forcei um pouco mais e o "PLOC" da lata abrindo me fez relembrar os velhos tempos de alegria.

Há uma cena clássica em livros sobre vampiros em que a criatura fita com tanto desejo e pescoço de sua vítima que não percebe o que acontece à sua volta, a ponto de conseguir perceber a corrente sanguínea passando pelas veias que em breve morderá. Foi assim que me senti no momento em que minha namorada começou a tomar aquela Coca. Ela conversava comigo e a única coisa que eu conseguia prestar a atenção era o fluxo de Coca indo da lata para a sua boca atrás daquele canudo quase transparente. Deveras tentador.

Ela percebeu meu real interesse e novamente fez a proposta, dizendo que ninguém iria ver. Era um convite à perdição, mas eu não podia fazer isso. Como eu iria encarar meus amigos sofrendo após ter bebido daquilo que me comprometi a ficar longe? Como manteria este blog? Com mentiras? Ela riu com meus argumentos e jogou fora a lata vazia. Eu sabia que ela não desistiria. Ainda tinha 30 dias pelas frente.

quinta-feira, 19 de março de 2009

10º Dia: Alucinação

Em primeiro lugar, queria falar a respeito do aviso que tem na barra lateral desse blog. Conteúdo essencialmente humorístico e tals, não nos processe, et cetera. Sério, não tô achando graça alguma. São dez dias hoje. Um quarto do tempo. parece uma vitória, mas não consigo deixar de pensar que tenho mais um mês nesse martírio. Ali ao lado também diz que as postagens podem contem alguns exageros e tudo mais. MAS, MEU! EU SONHEI QUE TINHA COCA AQUI EM CASA!

Sérião, acordei suando. Tinha ido dormir tarde ontem porque descobri coisas a fazer uma hora depois que as crianças deviam estar na cama. Quando finalmente me deitei, eu apaguei instantaneamente. Em minha próxima lembrança, eu estava abraçado a um Cálice Sagrado contendo 2L da mais gelada e negra Coca. Tinha aberto a geladeira, senti a temperatura do vasilhame em meu rosto e não tive dúvidas, fui direto abastecer meu copo. Enquanto aquela catarata de felicidade jorrava naquele recipiente em que, se eu pudesse, entraria para me banhar, eu lembrei da minha luta. Não podia abandonar tudo tão facilmente. A idéia foi imbecil, mas e a minha honra? Tinha de provar que sou um homem de palavra!

Os fatos seguintes a esse pensamento são meio distorcidos em minhas memórias. Eu devia ter simplesmente A guardado na geladeira. Não foi o que ocorreu. Após ter preenchido meu copo, fiquei olhando para aquela cena. Era uma garrafa e um copo, ambos quase cheios do insumo de alegria. Era uma cena que inspirava calma, paz e a idéia de que um mundo melhor era possível. Meus pensamentos eram visuais e abstratos, tranquilos. Imagino que, se é possível atingir algo como o nirvana, o caminho até o mesmo se constitua de algo parecido com o que vivenciei. E assim, nessa tranquilidade, eu dei um passo a frente, segurei o copo e o levei a boca.

Antes do primeiro gole imaginário encostar nas papilas gustativas do meu consciente onírico, entretanto, a lembrança "Cê tá traindo o movimento, véi!" cruzou a minha mente e eu acordei. Eram 4:37 da manhã no meu relógio e eu acordei por ter quase tomado Coca no meu sonho. Estava assustado, suado e ofegante. Fui até a cozinha e tomei um copo de suco de abacaxi para me acalmar. Na embalagem do produto, a coroa do fruto lembrou-me tristemente que os dias em que a alegria reinava ficaram para trás. Hoje só nos resta a casca, dura e cheia de espinhos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

9º dia: Nem o frio esfria nossa vontade

Desde que começou essa nossa Cruzada para agüentar 40 dias sem a al-Hajar-ul-Aswad em forma líquida, hoje foi, por mais estranho que isso possa parecer em se tratando de Curitiba, o primeiro dia de frio. Segundo minha chefe, uma daquelas anciãs que acham que sabem prever o tempo, era de se esperar que hoje esfriasse, pois "passou 15 de Março, é batata, começa a esfriar". Segundo a previsão do tempo de ontem, chegava uma frente fria e era pra esfriar mesmo. Segundo meu pai "dia que começa com neblina, vai fazer sol". Não teve neblina hoje, mas teve queda de temperatura, o que, por si só, já era motivo grande pra melhorar nosso ânimo, pois Coca-Cola tem que ser gelada, e dias frios pedem bebidas quentes, ou seja, em tese, nossa vontade deveria estar menos avassaladora.
Mas - e sempre existe um 'mas' - alguns fatores tendem a agravar nossa situação de aparente estabilidade física e mental. São eles: 1) era só um começo de frente fria, o clima não estava congelante, e, de tempos em tempos, até o Sol, esse inimigo dos branquelos e winter-lovers, aparecia para nos impingir aquela suadinha da qual achamos que, por hoje, escaparíamos; 2) Cometemos o erros de escolher um bar pra almoçar, e esse bar, especificamente, é um daquelas que as pessoas vão em bandos (graças a uma esfiha pecaminosamente grande e gostosa que eles produzem), e como já foi dito, mais que dois bros num mesmo ambiente é uma ocasião que exige uma Cocota, portanto, a cada dois segundos, para nossa infelicidade, passava um desavisado carregando um Totem negro da felicidade ao nosso lado; 3) Nós estávamos em mais de um bro, sendo que um deles não é abstêmio, e a situação pedia uma Coca -humm, aquela esfihas caem bem com Coca, aliás tudo cai bem com Coca... Eta líquido de Deus.
Concluindo: vontade amenizada é o cacete, fiquei com água na boca por uma Coca, esta Ambrosia batida no liquidificador, o dia inteiro.

Se isto fosse uma redação para vestibular este parágrafo receberia um "x" e um "fugiu ao tema" bem grandões. Mas como fato pertencente ao 7º dia, ao meu 7º dia mais especificamente, relatá-lo-ei aqui neste espaço, pois se passam já dois dias do ocorrido e sinto que ele sublima da minha memória. Peço, contudo, perdão desde já, pela fuga ao tema. Aí vai o que aconteceu: caminhava eu, tranqüilo e sonolento, recém-saído de uma aula, pelo meu campus, às 10 horas da manhã quando um conhecido me aborda com um simpático "parabéns", e eu "pelo quê?", e ele "pelo sétimo dia". Fiquei ainda alguns segundos astonished, até que percebi a que ele se referia. Com muito entusiasmo cumprimentei nosso primeiro "entusiasta". Naturalmente perguntei onde ele tinha ouvido falar, e essas coisas, tudo muito divertido. Descobri inclusive que ele não toma refrigerante há muito tempo, com o porém que, para ele, líquidos com bolhinhas que fazem cócegas no cérebro nunca foram um vício. Tudo muito motivador. Esperamos encontrar mais leitores por aí.

Resta agora uma dúvida que acabou de me ocorrer, e que também foge ao tema do posto, e para qual gostaria de pedir a ajuda de todos para obter a resposta: Numa tentativa, como essa, de ficar 40 dias sem colocar na boca uma gota sequer do líquido que fez Nietzsche chorar, Bala de Coca, vale?

terça-feira, 17 de março de 2009

Bebida Alternativa 1: Suco Portátil

Nesta primeira semana tive de aprender a me virar sem o líquido rei. Dizer que encontrei uma bebida alternativa seria dizer muito. Não há alternativas à Coca. Porém, para não morrer desidratado, eu tive de tomar alguma coisa nesses dias. Por mais que durante esses dias eu queira morrer, é bom tentar sobreviver e sonhar em sentir aquele borbulhar novamente em minha garganta. Assim sendo, aceitei o meu destino e tomei líquidos menores.

As opções variam, entretanto, de acordo com o número de pessoas envolvidas na partilha. do gole. Uma coisa, porém, é certa: se você está só, tomou no cu, mermão. Digo isso porque você sozinho tem de bancar o líquido e, quanto menor a embalagem, mais caro o preço do mL, fazendo com que o gasto real seja maior e a frustração por desembolsar dinheiro por uma bebida que não Ela seja maior.

Com pelo menos mais uma pessoa, as opções já aumentam consideravelmente e é possível adquirir um produto que emule felicidade por alguns segundos, pelo menos durante o momento em que ele alivia o calor importado das savanas africanas que tem assolado a cidade nos tempos.

A melhor opção para as duplas é o suco de garrafinha. Mas não um desses prontos que custam o dobro que a bebida da garrafa sensual. A idéia é produzir em série o seu próprio refresco, o seu Suco Portátil. Para isso, você vai precisar de:

2 garrafas d'água
1 pacote de suco em pó
1 amigo sorridente
1 par de fones de ouvido defeituoso







































Assim que convencer o seu amigo sorridente de que tomar Coca é uma idéia idiota (talvez o passo mais difícil do processo), adquira uma garrafinha d'água de 500 mL para cada um. Assim, vocês totalizam um litro, exatamente o que rende um pacote daquele pó enviado por Satanás aos homens para que eles se refrescassem antes que o drink dos deuses surgisse no plano dos mortais.

Os gastos são razoáveis, cada garrafa d'água custa entre noventa centavos e um real. O suco, sempre o mais vagabundo e barato, desde que não seja Nutrinho, geralmente custa cinquenta centavos. Não, mentira. Geralmente custa quarenta e oito centavos. Sério, reparem. Sempre tem um suco a quarenta e oito centavos. De qualquer forma, cada um gasta R$1,25, mais ou menos. Sim, eu sei que é uma lata de Coca, mas ficar lembrando disso não altera o gosto do meu suco. Já tentei, não altera. O que se pode fazer é se contentar com o seu meio litro de cópia de gosto de abacaxi. Abacaxi, nem considerem outros sabores, não vale a pena.

Mas nem só de contras se faz essa receita. Há algumas vantagens que ajudam a encarar a Grande Seca. Após esvaziar o conteúdo de suas garrafa, pode-se enchê-la novamente em bebedouros, com alguma sorte até com água gelada, e com mais cinquenta, ou quarenta e oito, centavos adicionais, você leva mais dois sucos! Sendo que essa promoção dura pra sempre, ou enquanto a sua garrafa não criar fungos.

8º dia: Por um [bom] suco gelado

Já devo ter dito em algum post passado que sou fresco para bebidas. Além da desejada das gentes, a linda Coca-Cola, eu bebo apenas suco. Nada de chá, água com sabor de limão, cerveja ou vodka. Apenas suco. E é por isso que eu acabo me fodendo mais que os outros nas nossas aventuras pelos mercados: não existe suco gelado.

Se Coca fosse um deus, o Mercadorama seria seu templo. Quem é de Curitiba sabe o quanto esse mercado está associado a esse líquido viciante. Quase todas as minhas memórias envolvendo Coca-Cola e amigos são no Mercadorama. Já tentei outros mercados (como o já citado Carrefour) e botecos de esquina, mas nenhum outro lugar tem uma Coca tão pecaminosamente gostosa como o Mercadorama. Porém, apesar do carinho e boas memórias que tenho deste lugar, odeio-o imensamente por nunca ter uma merda de suco gelado e com preço acessível.

Se nestes dias de calor de dar inveja a beduíno você vai a um mercado na esperança de tomar um suco geladinho sem gastar muito, pode se preparar para morrer de sede: não existe! Já fui em praticamente todos os Mercadoramas do centro de Curitiba e é muito raro encontrar suco gelado. No máximo aquele da Coca-Cola, Minute Mais Ma+s, que custa quase cincão o litro! Vez ou outra encontre um Tampico ou alguma outra marca genérica. E isso não se aplica apenas ao Mercadorama, mas aos outros mercados também. Como é que querem que sejamos saudáveis se a única coisa gelada que eles têm é refrigerante? Como eles querem que tomemos suco se ele tá quente e aquela Coca está ali, da cor do pecado e na temperatura da perdição? Evitar pensamentos pecaminosos, como tomar uma latinha de Coca escondido, beira o impossível.

A solução foi inventar novos meios de arranjar uma bebida que refresque e que você possa encontrar em qualquer mercado. E sem gastar muito, é claro. Foi assim que desenvolvemos o Suco Portátil, apesar de ele ser menos saboroso e dar uma sensação de prazer muito aquém do amado líquido que desce fazendo cócegas pela sua garganta.

E não é apenas em mercados que você não encontra um suco gelado, mas em lanchonetes ou restaurantes. Ontem fui a uma pizzaria e o único suco que tinha era de manga. Meu, suco de manga! Isso é muito ruim! Consegue ser melhor que o de caju, mas ainda assim é horrível. Duvido que exista alguém no mundo capaz de gostar de uma porcaria dessas, mas insistem em produzir e, pior, de ser a única coisa que você encontra por aí, pra substituir a Coca.

segunda-feira, 16 de março de 2009

7º dia: Mandem rezar uma missa

Existem explicações sobre o porquê parar de beber o sagrado líquido ser algo de dificuldade extrema. Assim que o cérebro assimila a informação "Aqui há uma oportunidade de tomar Coca" ele aciona os mecanismos responsáveis pelos sentimentos de recompensa e alegria. O mesmo acontece conosco, que paramos de tomá-La. Em nós, porém, após essa informação ser assimilada e acionar os seus respectivos efeitos, outra é enviada "Erro 2622: No atual momento, nenhuma oportunidade de tomar Coca é possível". Tal mensagem causa depressão repentina e questionamento do próprio código moral. Portanto, perguntar-se "Por que continuo com esse ritual de auto-flagelação?", embora não possua uma resposta racional aparente, é normal durante o processo de abstinência.

Esclarecido o sofrido processo que ocorre em minha cabeça em menos de um segundo toda vez em que sou forçado a negar um gole do néctar negro, relatarei alguns casos em que passei pelo referido tendo que abusar da minha força de vontade para não trair o movimento refrescando-me com a bebida da alegria.

O primeiro deles ocorreu sábado último, na casa de um amigo. O plano era chamar algumas pessoas para serem felizes jogando Wii. O console da Nintendo é extremamente eficaz como catalisador social e em apenas umas partidas de Mario Kart muitos tinham sorrisos estampados em seus rostos. A madrasta do anfitrião, entretanto, notou que faltava algo àquela cena para que a felicidade fosse, de fato, real. Enquanto eu batalhava para que Diddy Kong fosse o grande vencedor, ouvi uma voz anunciando "Gente, que é isso. Esse calor e vocês aí? Tá aqui, uma Coca! Aproveitem que está ge-la-di-nha!" Confesso que a minha fé em Deus foi abalada naquele momento. Além de ter que recusar a bebida, era uma temperada com amor maternal. Minha consciência havia tomado a forma de dois patos Donald, um possuindo um tridente e outro com asas cheias de plumas, ambos tentando me convencer a beber. Porém, como Pinocchio sabiamente me ensinou, ouvir a sua consciência só o leva a ser engolido por uma baleia, e como meu nome não é Jonas, declinei a oferta.

No dia seguinte, ocorreu um evento do qual estava temeroso durante toda a semana. O almoço de domingo. Aqui em casa, é o único dia em que todos da família almoçam na mesa ao mesmo tempo. Talvez porque seja o dia em que ninguém trabalhe ou tenha aula, o fato é que para celebrar a união criou-se o hábito de ter um almoço mais elaborado e ela: a garrafa de dois litros de Coca. Meu pai achou estranho eu levar uma jarra de Tang de abacaxi para a mesa. Eu achei estranho sentir gosto de abacaxi enquanto tomava o conteúdo do meu copo e olhava aquela garrafona me encarando do centro da mesa. Senti-me mais ou menos como um padre que tem de rezar em um strip-club. Ou em uma sala do pré. Difícil concentrar-se em suas atividades com o fruto proibido ao seu redor. Não obstante isso, tive de passar o resto do dia com o empecilho de, toda vez que eu abria a geladeira, encontrar a garrafa quase cheia perguntando qual foi o motivo da rejeição.

Hoje, porém, fecha uma semana em que iniciei esse processo. Algo pra se comemorar? Talvez. O fato é que uma etapa importante foi superada e que, a partir de agora, a tendência é que tudo se repita em um grande ciclo de sofrimento. A vida é uma merda mesmo.

domingo, 15 de março de 2009

6º dia: Pepinos sociais

Já é sabido pelas massas que nos lêem (com acento) que planejamos ficar 40 dias sem Coca-Cola, o líquido negro que sucederá o petróleo como motivador de guerras. Também é sabido que nós três temos enfrentado os maiores problemas em resistir à tentação de beber o líquido divino em nossas próprias casas, e não, como seria de se esperar, na rua, naquelas dias de sol senegalês. Imagino que isso se deva ao fato de a Coca que temos em nossas próprias casas ser de graça (viva as mamães) e, portanto, mais gostosa. Mas o meu ponto aqui é: se você não toma a Coca da sua casa, tem quem tome certo?! Outros parentes, aquele vizinho chato ou um convidado qualquer ávido por uns goles de felicidade na faixa. Ou seja, a Coca tem um destino certo e provavelmente fará a alegria de outros.

Falemos então de questões mais práticas e mais difíceis de contornar no dia-a-dia de um abstinente de Coca (e outros refris). Relatarei, em ordem cronológica, três situações em que não tomar o líquido afrodisíaco fodeu minha vida, e não por causa do vício, mas de convenções sociais, indisponibilidade etílica entre outros fatores:

1) Fui a casa de um amigo negociar uma magrela – a magrela é uma bicicleta e o meu amigo não é cafetão. Como boa anfitriã que é, a mãe dele me ofereceu almoço e eu, naturalmente aceitei. Não sei dizer se era por que eu estava lá (porque afinal, há lares em que os líquidos gasosos não são um hábito), mas tinha refrigerante para acompanhar a comida. Estava calor, eu estava com sede, mas como era de se esperar eu neguei o “gole”. Meu amigo sabe que eu estou em Quaresma e falou “Mãe, rola um suco aí pro Dudão”. Eu logo mandei o “Não. Que é isso. Não precisa”, mas lá foi a gentil Sra. Mendes atrás de suco, que segundo ela “provavelmente não tinha”. Bem ela cavou por um tempo e achou um Maguary de caju. De caju minha gente. Todo mundo sabe que caju é o pior suco do mundo. Não me admirou que a garrafinha estivesse cheia ainda. Resumindo: A Sra. Mendes teve que ficar um bom tempo procurando por suco pro seu convidado chato (muito obrigado Sra. Mendes), e eu tive que tomar suco ruim olhando pra um gasoso geladinho. Aqui cabe um parêntesis: não me interpretem mal, não critico a família Mendes; tenho certeza que eles não sabiam o que estava fazendo quando compraram o dito cujo. Fecha parêntesis.

2) Ontem foi sábado. Dia de sair. Fui todo faceiro ao já-muito-manjado ponto de encontro da cena rock-e-todas-as-suas-variantes de Curitiba. O Largo da Ordem. Querendo fazer um revival das saudosas férias decidi encher a cara. Mas havia um problema. Eu não podia tomar nada gasoso. Ou seja, isso eliminava da minha lista de possibilidades etílicas toda a sorte de tubões, cervejas, e praticamente toda a possibilidade de beber qualquer destilado, porque convenhamos, nenhum destilado é gostoso, ou agradável ao paladar; eles ficam tomáveis quando misturados em alguma coisa ou amenizados por alguma coisa, de preferência... vocês sabem né? Bem, no final das contas compramos um conhaque (Presidente claro), e pra rebater o gosto forte que fica na boca, água. ÁGUA. Não precisa dizer mais nada.

3)Hoje, hora do almoço. Fui ver amigo meu lutar no campeonato de jiu-jitsu. Depois do certame a mãe dele nos levou pra almoçar. Um lugarzinho muito agradável em frente à Praça Oswaldo Cruz e também um dos poucos estabelecimento off-shopping aberto nesse domingo ensolarado. Acontece que eu não posso tomar Coca e o local, recém-inaugurado, não contava com grande variedade de tomantes. Solamente Coca-cola e aqueles sucos enlatados que são cléopiresmente gostosos, contudo astronomicamente mais caros que qualquer outra coisa. Certo, a mãe do amigo tinha se oferecido pra pagar a refeição, mas sempre rola aquela vegonhazinha certo? Imaginem-se falando pra pessoa que vai pagar sua conta “não não. Eu não tomo esse refrizinho barato, eu quero aquele suco caro ali ó*aponta*”. Tenso não?

Pois bem. Conclusão: Há bem mais coisas rolando nos bastidores de uma Quaresma de Coca do que supõe a vã filosofia dos que ainda não tentaram.

sábado, 14 de março de 2009

5º dia: Monotonia 40°

Ainda é o quinto dia de minha cruzada sem Coca e já estou sofrendo. Estou prestes a completar 100 horas sem colocar uma gota sequer de refrigerante em minha boca. E já demonstro sinais de crise de abstinência, principalmente neste calor infernal. Não sei a quantos graus o mundo queima lá fora, mas dentro deste quarto, com o ventilador na minha cara, anseio por algo gelado, saboroso, doce e gaseificado. Quero Coca-Cola, mas tenho de me manter firme.

Até mesmo minha mãe, eterna combatente da felicidade engarrafada, faz pouco da minha infelicidade. Provoca-me para saber até onde minha determinação vai: a Coca, que antes estava escondida atrás de geladeira, está estupidamente gelada lá dentro. Com esse calor, torna-se ainda mais difícil não sentir-se tentado a cair no pecado.

Nada é mais triste do que um dia quente - deve estar quase uns 40° - e sem aquela Coca malandrinha pra te fazer esquecer do inferno chamejante que está fora de minha bolha. Pior ainda é fazerem um churrasco e você ter de se contentar com um suco de maracujá. Que tipo de churrasco é esse em que não tem refrigerante? Me nego a chamar isso de churrasco! Não há alegria, não há felicidade.

Outra coisa que eu adorava fazer era comprar um Pipoteca - outro daqueles salgadinhos vagabundos -, acompanhado de uma Coca, e ficar vendo TV à tarde toda. Um terror para o organismo, mas uma delícia. Com um pouco mais de dois reais eu era feliz.

Os dias agora passam mais devagar. Cada minuto é uma tortura e os segundos se arrastam com a velocidade de quem está morrendo. Tenho aqui ao meu lado um pacote de Pipoteca e uma garrafinha de água. Nada mais triste, sabendo que tem uma Coca na geladeira me seduzindo, pedindo para eu cair na tentação. Restam 35 dias de caminhada sobre cacos de vidros de uma garrafa de Coca-Cola em um deserto. À minha frente, tristeza.

sexta-feira, 13 de março de 2009

4º dia: Tentação, Impotência, AIDS e outras histórias

Voltar para a casa dos meus pais sempre é sinônimo de festa. E festa sempre rima com Coca, assim como alegria, felicidade e prazer. Por mais que minha mãe não aprove meu vício, sempre encontro uma linda garrafa me esperando.

Sabendo que comprariam aquilo que me comprometi a não beber, liguei com alguns dias de antecedência para contar a minha cruzada e ouço um “Ah, mas eu já comprei”. Sugeri que bebessem antes da minha chegada, mas ela me disse que iria “esconder a garrafa”. É óbvio que isso não daria certo.

A cidade onde eles moram, Antonina, é incrivelmente quente. Um calor absurdo que vem de todos os lugares: do chão, das paredes, das árvores, do ventilador. Exceto daquela garrafa escondida atrás da geladeira. O Diabo nos tenta de diversas formas, e uma delas é colocar na cabeça de nossas mães a idéia de merda de esconder uma garrafa de Coca atrás da geladeira em um dia em que o próprio Inferno subiu à terra. Será que ela, como fumante, não imaginou que eu estaria na fase do desespero, quase bebendo óleo diesel e chamando de Coca? Será que não passou pela cabeça dela o quanto eu sofreria vendo aquela garrafa ali atrás? Não, afinal ela colocou a porra da Coca ali, do lado do único lugar fresco de toda essa casa. Por sorte, aguentei a tentação. Mais pelo fato da Coca estar quente do que pela minha força de vontade.

Mas apesar de tudo, ela tentou me apoiar nesse longo período Coke-free. Da sua maneira, mas tentou. Começou a dizer que Coca faz mal e todo aquele papo que todo mundo conhece, quando soltou a maior pérola do dia: “Coca deixa broxa”. Nesta hora parei tudo o que estava fazendo e fui ouvi-la discursar. “Vi numa reportagem na Record! Dizia que quem toma Coca demais fica broxa! Cuidado, hein?”. Perguntei qual o embasamento científico daquilo, mas ela não sabia o que era isso, então decidi optar para Google. 

Entre diversas advertências de que cocaína causava impotência, um cara em um fórum me chamou a atenção porque dizia que sua avó afirmava que Coca dava AIDS. Caralho, isso é genial! Quem precisa de embasamento científico para o fato de Coca deixar broxa quando uma anciã simplesmente descobre essa porra dá AIDS! E assim se elucida o mistério de como a doença se espalhou pelo mundo. Agora temo pelos meus 4 anos de orgias de Coca-Cola nos mercados e botecos de Curitiba. Temo pelo dia em que eu vá fazer um exame de sangue e o médico olhe para mim com pena e diga: “Filho, você usa drogas? É gay? Sexo sem camisinha?” e eu responderei com um sincero não, então me olhará severamente e dirá em um tom áspero, como quem condena: “Coca-Cola. Sempre ela.” Sim, sempre ela. Uma vez li em um cinzeiro que “Você vai morrer de algo que você gosta”, e eu já sei do que morrerei: de felicidade, com uma Coca-Cola gelada. Sempre ela.

Parou por quê? Por que parou?

Qual seria o motivo de uma greve tão estúpida como a de Coca? Afinal, não é algo tão bom? Pois é, a princípio nenhum bom motivo surge para explicar. Alguns, porém, pregam que a Coca possui algumas características que fazem questionar o nosso entendimento dela como algo a ser ingerido. Não foram poucas as vezes em que ouvi a respeito dos tonéis do nosso néctar de cola que a polícia americana sempre mantinha em suas viaturas para poder retirar manchas de sangue do asfalto. Acompanhado da história, geralmente vinha um convite à reflexão: "Imagine você o quê isso faz dentro de nosso organismo!"

Verídicos ou não, casos como esse eram ignorados. Afinal, se faço o mesmo até mesmo com os nutricionistas, que são formados para tentar me convencer a substituir meu atual cardápio por um similar a base de soja, por que eu ouviria a história que meu tio, aquele que semana passada mandou um e-mail avisando sobre gangues que injetavam aids em jovens incautos, contou sobre a Coca?

E assim eu era feliz, até que provas concretas de efeitos colaterais do consumo da felicidade começaram a surgir em minha vida. Primeiramente, a irmã de um parceiro de abstinência fez um tratamento de recalcificação dentária. Seus dentes haviam enfraquecido devido a ingestão ao longo dos anos de grandes quantidades de Coca. Foi algo que assustou a comunidade cocacoláfila, mas enquanto as garrafinhas não viessem com a estampa de um urso polar sem ossos, seriam poucos os desistentes de tão prazeroso hábito.

Entretanto, tornamo-nos conscientes de mais um aspecto nocivo: o vício. Foi algo difícil perceber, mas de repente, nossas finanças estavam sendo afetadas pela média diária de dois reais de alegria. A saúde não nos preocupava. Aliás, consideravamo-nos pessoas saudáveis. Se comprávamos Coca todo dia, era porque gostávamos, não porque precisávamos. E assim pensamos até que um dia eu e Dudão estávamos assistindo House aqui em casa. Era um dia em que não havíamos nem tocado em uma daquelas garrafinhas curvílineas. Estava quente e às 21:50 um de nós sugeriu: "Se corrermos, pegamos o Mercadorama da Tiradentes aberto ainda. Dá pra comprar uma Coca!"

Segundo o Google Maps, esse trajeto tem 1km e dura, a pé, aproximadamente 11min. Naquela noite, dois cabeludinhos sedentos o fizeram, em ritmo de maratona, em 4min. Enquanto corríamos, lembrei-me de Trainspotting. Assisti o filme faz muito tempo e não lembro muito além de "Choose life, choose a fucking big television, etc" e algo envolvendo heroína. Mas lembro que tinha uma cena em que o cara corria. E, sendo um filme sobre viciados, não é difícil imaginar que ele tenha corrido por causa de heroína. Na minha cabeça, eu, naquele momento, era o cara do filme. Estava levando meu corpo ao limite para não ter que andar mais um ou dois quilômetros até o mercado 24 horas arranjar a minha fonte de sorrisos. Ao chegar no mercado eu sabia, precisava parar. Aquela seria a última Coca antes de uma pausa de 40 dias e 40 noites sem a minha Preciosa. Não foi nem a penúltima.

quinta-feira, 12 de março de 2009

3º dia: Retrospectiva

Pois é, ainda é apenas o terceiro dia sem Coca. As coisas não estão tão desesperadoras, quanto o futuro promete. Alguns devem lembrar que o diabo não apareceu pra Jesus no primeiro dos seus dias no deserto. Pois bem, o nosso demônio (Alô Diabo) também não apareceu ainda para nos prometer cascatas de Coca. Estamos, portanto resistindo com relativa facilidade às geladeiras forradas de garrafas sensualmente geladas que povoam os Mercadoramas, estes santuários dos coke-addicted.

Por enquanto, a única tentação realmente ameaçadora que mantém nossos corações em suspensão é a possibilidade, ainda que remota para alguns, de se chegar em casa e deparar-se com aquele míssil do capitalismo que são as garrafas de coca maiores que 2L. E mais terrível ainda: você tenta desviar sua atenção daquela tentação rubro-negra (sem comentários sobre times, por favor) e chega aquele seu parente sacana, que sabe que você está fazendo um esforço olímpico para controlar-se e lhe oferece o líquido inefável, passa o copo debaixo do seu nariz, fazendo com que cada cabelo do seu corpo se arrepie, com que sua boca se encha d’água, e diz, com a cara mais marota do mundo “Quer?”. Esse parente, que no meu caso é um sobrinho, mas também pode ser uma irmã ou namorada, não sabe o mal que faz, afinal, nunca passou pela experiência da desintoxicação. Mas Jesus é justo e Deus escreve certo por linhas tortas. E o que é melhor, Deus gosta de Coca.

Como eu dizia. A tentação e a abstinência ainda não estão no ápice, então ao invés de lamentar os litros não tomados usarei esse post para mostrar como eu e o Cássio adquirimos esse tão delicioso, e ao mesmo tempo bone-threatening, hábito. Excluo o Durval, pois este já nos explicou seus motivos:

Verão de 2005, Curitiba, 2º ano do Ensino Médio. Começo de ano, pessoal se conhecendo melhor. O fantasma de ser calouro sumira junto com 2004 e ao que tudo indicava novas amizades se formariam. Contudo, numa turma de jovens envergonhados fazia-se necessário algum tipo de aparato que congregasse as pessoas e consolidasse suas relações. Esse aparato foi – e eu falo sem vergonha alguma – uma campanha de RPG. Toda quinta no local combinado. Mas era verão, e como se sabe, mais que dois bros num mesmo local num dia quente é um evento que exige algo gelado e bebível. Mercadorama a algumas quadras de distância, forma-se a comitiva responsável por ir buscar algo. Chegando ao Santuário nos chama a atenção aquela garrafa geladíssima, cheia de um líquido escuro e borbulhante, de rótulo vermelho, cor que, como é bem sabido, atiça a libido dos observadores. Até aquele momento Coca era conhecida apenas como aquele refrigerante que animava as festas familiares aos domingos e que fazia lacrimejar quando ingerida a grandes quantidades em poucos goles. Até aquele momento, para alguns de nós, a Coca era preterível em favor de refrigerantes mais plebeus. Ledo engano. Bem, a comitiva volta para a reunião, e qual a surpresa geral quando “Meu Deus, esse é o melhor refri de todos!”. A partir dali, quinta era o dia de RPG regado a Coca, ou seria COCA regada a RPG. Não importa. O hábito semanal não demorou para aumentar em freqüência e em quantidade, e com o advento do cursinho no ano seguinte e a necessidade de ficar fora de casa o dia inteiro viramos cocólatras inveterados.

O cursinho acabou, veio a Universidade, pessoas foram estudar em lugares distantes e o grupo que contava com 5 membros, passou a ter 3, sendo que um deles é em 50% dos encontros absente (Obviamente, os outros dois membros são eu e o Cássio). Ou seja, menos pessoas pra tomar o líquido divino. O que não significa que passamos a comprar menos. E assim o que era um vício relativamente inofensivo, ainda que vício, tornou-se um movimento de consumismo desenfreado de Coca. Acredito que quando você racha um míssil do capitalismo em duas pessoas e não parece difícil tomar tudo, algo está errado. Até tentamos alternativas menos drásticas que a abstinência total, como a Coquinha 600ml, que apesar do tamanho proporciona prazer de gente grande, mas não dá. Invariavelmente comprávamos os monstros multimililítricos para depois enfrentarmos nossas consciências nos dizendo que aquilo era errado, posto que másculo.

O Momento da Verdade finalmente chegou e decidimos dar um basta nisso. Provaremos, principalmente para nós mesmos, que conseguimos, assim como Jesus ficou no deserto por 40 dias, fazer nossa Quaresma de Coca.

Inconsolavelmente esperando por dias piores, escreveu aqui Duda Godarth, seu correspondente da guerra contra o líquido negro.

quarta-feira, 11 de março de 2009

2º dia: Inove?

Teoricamente, esta quarta-feira foi o terceiro dia em que eu e Durval estamos em uma dieta coke-free. Em compadecimento ao nosso terceiro homem, que começou a sua jornada na terça-feira, atrasamos nossos relógios e voltamos ao segundo dia. Aquele em que a experiência já não parece tão legal assim e a visão de um futuro similar para o próximo mês inteiro assombra nossas almas.

Mas por que esse exagero? Era só refrigerante, não é mesmo? Não, acho que não. A relação que tive com esse líquido me impede de dizer que era apenas isso. Para demonstrar isso, citarei apenas um exemplo, dos mais recentes, de como a presença da Coca era importante em minha vida.

Às quartas-feiras, para o primeiro ano de jornalismo da PUC, as aulas ocorriam no laboratório de comunicação social, o qual situa-se putaquepariumente longe. Em meio a volta desse lugar, sempre a pé, para desgosto da URBS, decretamos ponto de parada oficial um templo de mercadorias situado no ponto médio de nosso trajeto de volta. Era nossa parada, nossa Valfenda. Comprávamos magikitos, não por seu sabor, não por sua qualidade, mas pela sua relação custo-benefício e, para acompanhar, não havia dúvida, era a nossa morena: a Coca.

Sempre entrávamos certos de que, por meia hora, teríamos a felicidade. Procurávamos os dois litros mais sensuais da geladeira e íamos ao caixa. Não nos importava que ali fosse metade da passagem que estávamos economizando. Trinta minutos de prazer, cobram muito mais caro por essas coisas por aí.

Só que um dia entramos nesse processo estúpido de desintoxicação. Na realidade, eu e Durval. Gaspar, o nosso acompanhante em nossas manhãs de quarta-feira nunca foi um discípulo fervoroso e, sendo assim, nos acompanharia no que decidíssemos tomar. Primeiro fomos atrás de um tampico gelado, mas essa opção não existia. Mates podiam ser encontrados nas geladeiras, mas devido às frescuras de um de nossos companheiros, não era uma opção válida. Em nosso pânico, consideramos desde iogurtes de ameixa até um engradado de chamyto big. Opções descartadas devido ao alto requerimento de nossas finanças.

Eis que em uma geladeira encontramos uma garrafinha de 500ml de um líquido denominado I9. A embalagem dizia que era um hidrotônico, ele tinha uma cor bonita e a promessa de que teria gosto de tangerina. Estávamos cansados já e olhamos as garrafinhas com um ar suspeito. De repente, encontramos o selo de garantia estampado ao lado das informações nutricionais. Coca-Cola Company. Já que vamos trair o movimento, o façamos de leve. Levamos.

Na mesa, aquele ar pesado. Não estávamos tão sorridentes, afinal, havíamos passado quinze minutos percorrendo um mercado atrás de um substituto não gaseificado para nos hidratar. Depois do primeiro gole, a decepção. "Sabe quando você faz suco numa jarra, põe água depois que acaba e toma? É isso." É uma triste definição daquilo que nos restou. As coisas tem menos gosto, nossos bosques menos vida. E por mais 38 dias, continuarão assim.

1º dia: O rebolado da morena sensual

Sempre acreditei que se alguém quisesse parar de fumar, bastava querer. Para mim, a força de vontade conseguia ser maior que o vício e o que faltava em quem não conseguia largar o cigarro era querer de verdade se ver livre daquilo.

Desde que comecei a morar sozinho, há quatro anos, bebi mais Coca-Cola do que tinha tomado nos 16 anos que morei com meus pais. Havia me tornado um cocólatra, um viciado. Apesar do termo pesado - viciado - nunca vi nada de ruim nesse hábito. Engordava um pouco, mas compensava na alimentação. Havia também o problema da descalcificação nos ossos que a Coca resulta, mas acreditava que a quantidade de Nescau que eu tomava era o suficiente para balancear isso.

O único problema real eram os gastos. Coca é a bebida com o preço mais volátil que existe. Você pode encontrá-la por menos de um real no supermercado, mas paga R$ 4,00 em algum vendedor ambulante durante um show. Como eu só bebia socialmente - refeições e quando saía com amigos - não sentia tanto no bolso, mas após brigar com o pessoal que entrega água na minha casa, fiquei um mês bebendo apenas o líquido preto da felicidade. Fui feliz por 30 dias e, quando fui ver minhas finanças, estava quebrado. Como por intervenção divina, cheguei na faculdade e o Cássio, outro viciado e co-autor deste blog, me disse: "Rapaz, vamos ficar 40 dias sem tomar Coca? Tipo desintoxicação. Topa?". Na hora a proposta parecia bacana, afinal, como eu sempre acreditei, para largar o vício bastava querer e eu me julguei capaz. Então Cássio, Duda e eu, os maiores viciados em Coca-Cola do Brasil, decidimos ficar sem beber nenhum tipo de refrigerante.

Foi a coisa mais masoquista que eu fiz na minha vida desde que comprei aquele CD da Tiazinha em 1999 - eu tinha 10 anos e não tinha Internet. Uma mulher de cinta-liga era tudo de mais foda no mundo até então - e nunca pensei que seria tão duro sobreviver sem Coca. Para os outros talvez esteja sendo mais fácil, já que bebem outras coisas, como chá, H2O e outras porcarias que nunca olhávamos até semana passada. Já tentei tomar essas coisas alternativas, mas nada me agradou. A única coisa que consigo beber é suco. O problema é que eu nunca acho essa porra gelada e, quando encontro, custa quase cincão.

E foi nessa batalha por um suco gelado e barato que comecei a quaresma de Coca. Minha namorada pediu para eu encontrá-la na faculdade e, enquanto a esperava, decidi comer algo no mercado. Fiquei 40 minutos andando por entre todas as gôndolas e não achei uma porra de suco gelado. Nada. Só Coca.

Ali estava ela. Dois litros de pura beleza e tentação, suandinho pra mim. A tentação era forte. Tão forte quanto minha fome e ainda mais que a minha sede. Abri a geladeira e segurei a garrafa. Sensualmente gelada. Eu estava sozinho, poderia tomá-la e ninguém saberia. Poderia dizer que continuava com minha abstinência e todos ficariam felizes.

Era isso que dizia o diabinho em meu ombro, mas o anjo do outro lado me alertava. Se eu fizesse aquilo, eu teria de ficar com a mancha negra - tão negra quanto aquela bebida que eu desejava - do pecado em minha consciência. Lembrei-me de um pastor louco que vi em algum desses canais bizarros que dizia que o pecado anda lado a lado com o prazer para o Inferno. Aquilo não tinha nada a ver com a situação, mas serviu para desviar a atenção do hipnótico canto da serei Coca-Cola. Fechei a geladeira e saí do mercado sem comer e beber nada.

Cheguei em casa quatro horas depois e comi um cachorro-quente com água. Foi quando vi o quão duro seriam os próximos 39 dias.